Rio+20 acaba com avanço nas ideias e fracasso nas ações


O documento final O Futuro que Queremos, concluído na Rio+20, Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável que terminou nesta sexta-feira (22), causou descontentamento tanto à sociedade civil quanto a representantes de governo.

Especialistas na área de meio ambiente falam sobre o texto apresentado ontem e eles concordam em um ponto: a Rio+20 apresentou uma nova agenda, sem se aprofundar em temas urgentes, como oceanos, financiamento de políticas sustentáveis e direitos das mulheres, tampouco definir modos e metas para implementação de propostas.

De acordo com Yolanda Kakabase, presidente do conselho do WWF Internacional, o resultado final deixou dúvidas sobre como as nações irão adotar as medidas incluídas no documento. Para ela, faltou mais ousadia em conferência que serviu somente para confraternização entre líderes mundiais.

— Os países vieram aqui, os chefes apertaram as mãos, mas ninguém fez nada para melhorar o documento. Se eles quisessem fazer a diferença, poderiam ter dito: não aceitamos o documento, e teriam proposto mudanças.

Para o coordenador do programa de mudanças climáticas e energia da ONG WWF, Carlos Rittl, a Rio+20 foi uma “oportunidade mal aproveitada” e serão necessários anos de conversas e diálogos entre os países para que os problemas que envolvem o desenvolvimento sustentável sejam definitivamente resolvidos.

— Ao invés de trazer decisões concretas, a Rio+20 colocou em nossa frente uma nova agenda de negociações. E agenda de negociações a gente nunca sabe quando começa, muito menos onde vai chegar.

A presidente Dilma Rousseff, no entanto, comemorou a Rio+20 durante o discurso de encerramento da cúpula na noite de sexta. Para ela, o documento final da conferência é "um ponto de partida".

- Agora, o que nós temos de exigir é que, a partir desse documento, as nações avancem. O que não podemos conceber é que alguém fique aquém dessa decisão.

Financiamento: maior decepção

O texto não trata de forma concreta a questão do financiamento para o desenvolvimento sustentável. De acordo com Rittl, trata-se de medidas urgentes, mas que não foram bem definidas no documento.

— Esperávamos resultados mais concretos. Sequer foram definidos os termos que serão trabalhados. Saímos da Rio+20 sem nada. Não sabemos o quanto vai custar, o que é necessário investir, quais deveriam ser os compromissos dos países ricos para colocar dinheiro na mesa e quais mecanismos vão contribuir para pagar a conta do desenvolvimento sustentável.

Para Dilma, um próximo passo deve envolver o financiamento de medidas para o desenvolvimento sustentável.

As nações ricas, por sua vez, atribuíram à crise econômica a impossibilidade de se comprometerem com recursos para o meio ambiente, e um fundo proposto de US$ 30 bilhões para ajudar países em desenvolvimento a implantar medidas de proteção ao meio ambiente foi descartado.

A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, lamentou que temas como preservação dos oceanos, “embora aprovado no tratado”, e direitos reprodutivos das mulheres, “em que o Brasil já avançou tremendamente”, não tenham evoluído na Rio+20. Essa última questão também decepcionou o ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota, que afirmou estar pessoalmente frustrado sobre os direitos reprodutivos da mulher.

— Eu, particularmente, me sinto frustrado em relação à questão dos direitos reprodutivos da mulher. Este não é um tema que será resolvido nesta conferência.

Cúpula dos chefes x Cúpula dos Povos

Embora a Rio+20 tenha decepcionado, a conferência atraiu milhares de representantes de movimentos sociais, empresariais e ONGs. Para Rittl, a participação da Cúpula dos Povos, evento que ocorreu paralelamente a Rio+20, foi positiva.

Segundo o coordenador, ONGs e empresas mostraram caminhos para propor soluções para o desenvolvimento sustentável. Porém, ele advertiu que essas decisões precisam estar associadas a compromissos políticos.

Conforme anunciou o secretário-geral da ONU para a Rio+20, Sha Zukang, foram firmados 692 compromissos entre essas entidades, com investimento de aproximadamente R$ 1,3 trilhões em energia limpa, emprego e erradicação da pobreza.

Fonte: Cenário MT


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